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Ser Arte (o)

9 maio

A obra continuava lá.

E ela, exacerbada quanto ao todo que ele havia passado, inconformada ante aos muitos tapas de repugno que assistira de camarote – e ainda assim ao seu lado –  os mestres (seriam hipócritas?) da vida lhe dar, lhe questionou, quase que em súplica:

– Eu tento. Me esforço em ver o que você vê, que tão pouca gente vê, que mais parece nem mesmo existir (e existira?)… Mas por mais que eu te ame; ainda que assine o testemunho de respaldo em seu favor, como a afiar o lado da adaga que não corta (não sabia ela, os dois lados da adaga o fazem) e te.. nos resguardar; por mais que eu caia em júbilos antes mesmo de você. Não é assim que o mundo gira. O mundo ceifa. Entendo-te – e a esta altura não sabia mais ela se nisto acreditava ou se para si mesma mentia – mas eles jamais te entenderão. Mas… Mas por que você não para?

E ele sem pestanejar, sem olhar para ela, sem olhar nem mais mesmo para a obra, como quem olha para o horizonte quando na verdade enxerga muito além deste, apenas respondeu:

– Porque é arte, mamãe.

Era arte. E tão real, que ela quase se sentia mesmo mãe dele.

Anexos da Vida

23 abr

Anexos da vida, que às vezes baixamos e só ocupam nossa área de trabalho.

Não que não tenhamos tentado nos organizar. É que é tentador ficar a dois cliques de tudo que pode haver ali dentro. Rodamos e rodamos o mouse. Como evitar aquele ícone, tão chamativo no plano de fundo preto?

Selecionamos, selecionamos, selecionamos…

Tentamos limpar o disco. Mas por mais que certos boots devessem ser enviados direto para a lixeira, eles continuam ali. Nem tudo o que vivemos é fácil de remover. E parece que quanto maior era a pasta, mais fragmentos ela deixa.

Perda desnecessária de HD. Mas gostamos de nos ocupar de downloads que nunca acabam. Queremos para ontem e não para amanhã. De lag em quando, até damos uma atualizada.

Daí, num belo link de sol, surge aquele arquivo que parece ser perfeito para a sua rede. A Ram logo dispara. Você analisa, digita alguns caracteres, pensa, repensa, capta, recaptcha…

PAN! Hora de dar Enter?
Tantas coisas em nossas vidas não foram decididas depois de um simples enter…

Tem arquivos que encontramos e rola todo aquele plug-in, instantâneo e sem nem pedir aceite. Quando você nota, tudo já está compatível, como se aquilo sempre tivesse feito parte de sua navegação. Você já nem imagina como é executar certas coisas sem aquela extensão.

Mas alguns outros, que pareciam tão funcionais, revelaram-se grandes malwares. Por vezes você pensa: “bem que meu anti-vírus alertou, era melhor ter excluído!” Mas, como saber?

Hora de arriscar.

Já foi o clique, já foi o enter e não há mais espaços para apertar o esc e dar o fora. Sem minimizar! Agora, é tudo ou nada.
Você abre o arquivo e apresenta o seu conteúdo até mesmo para a sua placa Mãe. Analisa se ele é compatível. Numa dessas, você pode até aumentar seu desempenho. E se surpreende quando ele parece conhecer todos os seus cookies.

A parte ruim é que cedo o ou tarde tudo se corrompe. Sem avisar, começam os delays e quando você menos espera o HD queima. E por mais que você tente se preparar para isso,  tem vezes que não há backup no mundo que recupere todos os Gigabytes ali depositados. Fazer o que. Não tem lógica. Existem arquivos que para sempre ficam compactados, por mais que você os deszipe.

São Codecs da vida…
Hora de formatar.

Vem aquela clássica era de novos F5 e de procurar em velhas pastas os .exe amigos, todos de versões anteriores, mas que jamais te abandonaram e pararam de rodar. Incrível como ainda funcionam, os mesmo .exe de versões tão antigas.

E logo depois, você já está de volta na rede. E claro, sem deixar a net cair. Afinal, é com os uploads que compartilhamos por ái que a rede nos devolve os downloads mais lindos.

Quem sabe um dia desses não achamos search a fora a nossa extensão e a executamos para sempre?
O que importa, é ser natural. Tem arquivos por aí, dizem, que nem precisamos de senha para descompactar.

We’ll wish this never ends

30 set

Essa é por ontem a noite. É pela tênue neblina na escuridão. É por caminhar sozinho por ruas solitárias. É por ter milhões de coisas para pensar e, ainda assim, pensar em uma única. É por às vezes se perder, é por às vezes se encontrar. Por se encontrar sozinho no meio de um monte de gente e, doravante, continuar só. É por se encher de palavras que você nem sabe como dizer, mas que ainda assim deveriam ser ditas. É por aproveitar o silêncio, ressonante no escuro, que nem sempre diz o que você quer ouvir. É por se sentir conectado a outro lugar onde você sabe que está, meio aqui meio acolá e ainda sim não sentir-se dividido. Você sempre soube o que queria. Uma hora, conseguimos ter. Nem que seja por insistência, nem que seja por pose, nem que seja por dedicação. É singela a noite, cheia de possibilidades, como um banco de palavras mal escritas e rabiscadas, prontas para articularem-se e tornarem-se uma composição. É suspirante o grande número de melodias que podemos compor com as exatas mesmas sete notas. Você ainda sabe o que quer ter. Você ainda sabe. Nem que seja por alguém, nem que seja por você.

Nem que seja pelo acaso, solitário a bailar, um elo oculto na escuridão, mas que ainda assim conecta vidas, pessoas, pensamentos e, antes de mais nada, histórias.

Ah! A vida é cheia de histórias…

Miss you.

Num Instante

14 mar

Se afogou em meus olhos e não quis retomar fôlego
Foi um tremor insepulto
Foi como queda d’água
Foi Outono profundo
Foi rebuliço constante

Silenciou minha mente e tomou meu coração
Quis seguir em frente
Quis dar passos pra trás
Quis consumir o semblante
Quis permanecer e só

Avassalou minha alma e em suplicas me tomou
Já era por completo
Já era indiscreto
Já era fato certo
Já era por querer.

E de repente me levou.
Tão seu eu era,
como por mim se dera.
Foi, quis… já era.

Sons da Madrugada

19 dez

Domava o ego que eclodia seu peito
Recordava momentos de solidão
Mirava a janela à procura de olhares
Fazia triste a melodia de seu violão.
Solos distantes, de poucos acordes,
Lavavam sua alma em duas metades.
Simétricas metades lançadas ao vento.

Conter-se

16 dez

Tanta ira, tanta fúria. Tem hora que nos tira do sério. Como é que isso foi parar em mim? É quase como um tiro que nos acerta de repente e não conseguimos entender nem de que direção veio, quanto mais quem disparou. Uma bala perdida. Não há muito o que fazer, você já foi ferido e está prestes a ser mais ainda. Começa a pensar se seria melhor se proteger ou revidar. Bater ou correr? E que tal acabar com o tiroteio? Você já foi ferido… nada do que faça vai fazer o sangue parar de jorrar. É difícil, mas é o que é. A retaliação vai de cada um, todos iguais e tão desiguais, de igual forma desigual reagimos. Só que a culpa não é nem de quem nos feriu, mas sim de quem disparou o tiro, que veio como um raio de luz, refletido e repassado de espelho em espelho, como numa batata-quente, até que queime justamente em você. Mas o tiro não só fere: também faz barulho. Assusta. Tanto barulho por nada. Que no fim qualquer que for a nossa reação, gera isso, Nada. Ou pior; é como ter perdido três e ter que escolher entre ganhar zero ou perder mais ainda. Matemática injusta a das variáveis inconstantes. Que é o que todos somos, alguns mais frequentemente, outros tão raramente, mas que é o que todos somos. Inconstantes e prontos para explodir.

À Primeira Vista

13 dez

Do primeiro post, a gente nunca sabe.
Do que dizer, do que fazer, do que querer.
É como um primeiro olhar: que julga um rosto.
Não nos representa, mas pode nos interpretar.
Leva consigo mistério, expectativa, introspecção.
Acho que, será que, vai ver só… é assim.
E de nada disso se sabe, antes de chagar ao fim.

Só que o fim não vem.

Em segundos, segundos virão.
E terceiros logo verão,
Do que se sabe afinal, o final…
Só mais um começo.
Qualquer outro começo normal.